tRiSTes eNTrÓpiCOs

FR[A]CKist3nZ

CPLX22

k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 is back. This time with a new alias : FR[A]CKist3nZ. A portmanteau-word, combining elements of "Fractal", "Hacker" and Cronenberg's "Existenz".

The Fractal comes from euFräktus's "holofractal" software, created for the Brasilia Laptop Orchestra which k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 has adopted. But rather than using it, as intended (as live improvisation), he records multiple tracks, whacks the volume to the max, and weaves them together into a torrential blast of almost pure electric noise. Of the kind that either razes cities or helps you get a good relaxing sleep.

This is an extraordinary EP, which highlights something that may be less apparent on the previous k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 outing (dionysian-industrial.bandcamp.com/album/h4ck1ng-fantasma-outras-bruxarias-do-c4os), a strong connection with Brazilian popular / folkloric culture. Most obviously here, the lyrics are in simple rhyming couplets, derived from popular story-telling and especially the "cordel" (or "cordel nordestino" as they are largely associated with the older rural culture of Brazil's North-East).

Cordels are small, cheaply printed booklets, telling a story or describing a place, in the form of a rhyming ballad. Usually accompanied by a distinctive xylographic (woodcut) print style illustration. k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 itself, and the artist's other projects, all dialogue with this popular style, using both the rhyme-scheme in this cybernoise music and reminiscent images across many visual products such as zines and videos.

For the cover of this release, we return to the artist's rich mythopunk world-building. The figure of Tamanduá Bandeira Negra : a cyborg hybrid of giant-anteater and humanoid, is a far-future historian investigating the long extinct experimental culture of the cerrado, through a series of zines and compilation CDs. We see, also, the Black Whale : an iconic image of a bionic ark, preserving knowledge as it swims the oceans that were once dry land. These future observers look back at "the invasion of the screens" : our own historical drama as we merge into our technologies of spectacle.

Lyrically, you might be surprised. Noise is, almost by definition, eschatological. And there are passages of this EP that feel like entropy has finally won out and a white hiss is all that remains at the end of time. And yet there is much positivity here. Utopian yearning. Freedom from religion and borders and pointless rituals. Even the track "Open Veins", while documenting fears of unknown futures and steering close to the feeling that Bruce Sterling describes as "Dark Euphoria" ("You can't believe the possibilities but never thought you'd have to dread them so much.") is punctuated by pretty glints and pings. As if we are floating with flickering hope through a crystal cavern.

The final track is almost a rebirth of the soul, beyond humanity. Where a flood of white noise has washed the world clean and new again. And we have become utterly alien. When the poetical lyrics arrive, it seems this is less a perspective from that future, and more our, primitive, campfire stories looking forward to it.

tRiSTes eNTrÓpiCOs by FR[A]CKist3nZ

k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 está de volta. Desta vez com um novo codinome: FR[A]CKist3nZ. Uma palavra aglutinada cujos elementos combinados são “Fractal”, “Hacker” e “eXistenZ” de Cronenberg.

Fractal vem do software "holofractal" de euFräktus, criado para a Orquestra de Laptops de Brasília, adotado por k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3. Mas, em vez de usá-lo, como pretendido (como improvisação ao vivo), ele grava várias faixas, aumenta seu volume ao máximo e as entrelaça em uma explosão torrencial de puro ruído elétrico. Do tipo, ou que arrasa cidades, ou que te ajuda a ter um bom e relaxante sono.

Este é um EP extraordinário, que destaca algo que pode ser menos evidente no lançamento anterior do k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 (https://dionysian-industrial.bandcamp.com/album/h4ck1ng-fantasma-outras-bruxarias-do-c4os): uma forte conexão com a cultura popular/folclórica brasileira. Mais claramente aqui, as letras estão em versos simples rimados, derivados da narrativa popular, em especial, do “cordel” (ou “cordel nordestino”, já que estão amplamente associados à cultura rural mais antiga do Nordeste brasileiro).

Os Cordéis são livretos pequenos e impressos de forma barata, que contam uma história ou descrevem um lugar, na forma de uma balada rimada. Geralmente acompanhado por ilustrações, bem característica, em estilo de impressão xilográfica (gravura em madeira). k[A]l3utun 0v[E]rdr1v3 em si, e os outros projetos do artista, dialogam com esse estilo popular, utilizando tanto o esquema de rimas nesta música cybernoise, quanto imagens reminiscentes em diversos produtos visuais, como zines e vídeos.

Para a capa deste lançamento, voltamos ao rico mundo de construção mitopunk do artista. A figura do Tamanduá Bandeira Negra: um híbrido ciborgue de tamanduá-bandeira e humanóide, é um historiador de um futuro distante que investiga, por meio de uma série de zines e CDs de compilação, uma cultura experimental do cerrado há muito tempo extinta. Vemos, também, a Baleia Negra: uma imagem icônica de uma arca biônica, preservando o conhecimento, enquanto nada pelos oceanos que outrora fora terra firme. Esses observadores do futuros olham para trás, para “a invasão das telas”: nosso próprio drama histórico enquanto nos fundimos com nossas tecnologias de espetáculo.

Liricamente, você pode se surpreender. O ruído é, quase por definição, escatológico. E há passagens neste EP que dão a sensação de que a entropia finalmente venceu e um ruído branco é tudo o que resta no fim dos tempos. E, no entanto, há muita positividade aqui. Um anseio utópico. Liberdade de religião, fronteiras e rituais sem sentido. Até mesmo a faixa “de Veias Abertas”, enquanto documenta medos de futuros desconhecidos e se aproxima do sentimento que Bruce Sterling descreve como “Dark Euphoria” (“Você pode não acreditar nas possibilidades, mas nunca pensou que teria tanto medo delas.”) é pontuada por reluzentes e belos toques agudos. Como se estivéssemos flutuando com uma esperança cintilante através de uma caverna de cristal.

A faixa final é quase que um renascimento da alma, para além da humanidade. Onde uma enxurrada de ruído branco lava o mundo, limpando-o e tornado-o, mais uma vez, novo. E nos tornamos completamente alienígenas. Quando as letras poéticas chegam, tudo isso não se parece tanto com uma mirada ao futuro, e sim, mais às nossas histórias primitivas contadas ao redor de uma fogueira, olhando para ele.