O mundo racional se dissolve em uma sopa caótica de mentiras e desinformação. Vigilância é liberdade. Conspiração é conhecimento. E a política é o brinquedo dos “hiperlíderes“: anárquicos insurgentes, que paradoxalmente alavancam a blitzkrieg da mídia social em um poder autoritário.
Os artistas recorrem à ficção científica distópica para, talvez por consolo, talvez em busca de um vocabulário para expressar seu horror e perplexidade com o choque atual que atravessamos.
Uma nova chegada ao Dionysian Industrial Complex é o djalgoritmo, um “live-coder trabalhando exclusivamente com TidalCycles, o estado da arte híbrida das linguagens de programação musical Haskell e SuperCollider. Suas batidas são uma textura glitch de assobios, guturais profundos, ruídos esvoaçante e corais espectrais, pontuados por punhaladas de baixo elétrico e sintetizadores 808.
Neste EP épico, ele conta uma história sombria em colaboração com os artistas Biophillick e euFräktus do selo Dionysian Industrial. O trio explora um mundo de pesadelos remixado dos fragmentos explodidos de filmes de ficção científica sombrios.
Biophillick, o “verdadeiro” Biophillick, é um tecno-xamã que canaliza as forças cósmicas da natureza. Mas o que um xamã deve fazer quando preso nas entranhas de Metrópolis? Nas câmaras de tortura de Faixa Aérea Um, após mais uma Guerra Mundial Terminus? Este Biophillick, o Biophillick de }bio{borgs, vagueia através do submundo das ovelhas elétricas, onde Furbies e Pokemon devem substituir os verdadeiros familiares dos animais e os Anchimayén. De fato, não sabemos ao certo se esse “Biophillick”, suas poesia é um fluxo desmanchando de livres pensamentos e tecniquês, pode não ser ele próprio um replicante defeituoso.
Enquanto isso, euFräktus pega uma cítara, como um George Harrison reanimado, e é ligeiramente transmogrificado e transubstanciado. Ele transcendeu e se tornou um drone cósmico, um som Om obscuro, encharcando as ruínas com radiação cósmica de fundo em micro-vibrações.
As batidas de djalgoritmo tornam-se distorcidas, assovios de pássaros e tambores pulverizados pelo reverb. Biophillick concentra-se numa conversa com um besouro atômico, em todo o seu desamparo kafkiano. Um universo sonoro de raspadas e cliques e trovões e estouros de estática. Sobrepostos por pesados lamentos do Bio.
Está o Bio conectando-se com a natureza? Ou arrancando arbitrariamente as asas de outra forma de vida artificial?
Um Nexus 6, chapado de melange, em busca de “mais vida”, encontra-se num transe de especiaria. Agora a cítara se torna guia de todos os elementos. Um protagonista dos riffs. Travando com as batidas aceleradas, semi-dançantes, semi-militares de djalgoritmo, em um groove crescente. Uma escada rolante cósmica ou elevador espacial levando Bio em uma última jornada. A velocidade de escape desta Terra achatada para um universo mais amplo, acompanhado pela canção gorgolejante e trinada de Furby.
Longe, além da Capa Heaviside. Para Arrakis. Para juntar-se à máquina de guerra nomádica de djalgoritmo e euFräktus na jihad clarividente contra os traficantes e os trolls das mídias sociais. Bio torna-se messias. Um dia ele retornará.