CPLX 1 : Biophillick – Mono Solar

O artista mexicano Biophillick está em Brasília há relativamente pouco tempo, mas já se estabeleceu na cidade por meio de diversas apresentações e performances. Clique em um link aleatório em seu site ou SoundCloud e você poderá assistir a uma explosão de um tecno brutal ou uma Sampledelia diáfana, sugerindo tanto um refugiado de Berlim ou um visitante de um Neo-Cali utópico. Ou você pode ouvir um cinemático avant-pop cantante, reminiscente da principal inspiração de Biophillick, Bjork.

Investigue mais profundamente os desertos coloridos e desbotados do mundo de Biophillick e você começa a notar algo diferente. Um intenso romantismo que me faz lembrar a ópera andróide de Klaus Nomi. Como Nomi, Biophillick canta em um falsete apertado mas delicado, evocando um desesperado e misterioso anseio quase humano. Ao contrário de Nomi, Bio oferece sua voz pra ser dilacerada por máquinas, que a arrastam e a esticam e a esfregam em uma paisagem expressionista de guinchos e suspiros, cantos e gemidos.

Em seu primeiro EP para Dionysian Industrial Complex, Biophillick penetra ainda mais num território selvagem. No seco Cerrado, onde não há proteção sob as estações do sol mortal, raios com garras e estrelas semelhantes a cristais de gelo, ele encontra tropas de primatas cósmicos cujos ancestrais extraterrestres pousaram aqui no planalto central a milênios atrás. Biophillick dá voz ao humor lúdico e mutável destes primatas – tímido e inquisitivo, melancólico e apaixonado, orgulhoso, sedutor, messiânico – enquanto percorrem uma geografia sonora tão vasta e tão esquemática como um geoglifo de Nazca, rochosas de ritmos rigorosos, poças escuras de drones, sons fanhos e atrofiados, flautas assombradas e zumbidos.

 

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